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SEJAM TODOS MUITO BEM-VINDOS!

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domingo, 18 de outubro de 2009

Todo mundo é bonito

Ninguém precisa seguir os padrões físicos impostos pela mídia. Essa foi a mensagem que a professora de Educação Física passou aos alunos do sertão sergipano

Os alunos da professora Josefa agora conhecem melhor a si mesmos e, por isso, se gostam mais. Foto: Gustavo Lourenção
Os alunos da professora Josefa agora conhecem
melhor a si mesmos e, por isso, se gostam mais.
Foto: Gustavo Lourenção
E aí, gordinha? Ô, palito, cuidado com o vento! Chega mais, tampinha! Fala, rolha-de-poço! Brincadeiras desse tipo entre os alunos, aparentemente ingênuas e inofensivas, incomodaram no início de 2003 a professora nota 10 Josefa Iranilde Dantas Santana, da Escola Estadual Epifânio Dória, em Poço Verde (SE), a 150 quilômetros de Aracaju. Recém-formada em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe (curso feito em um campus avançado, no município de Lagarto, cidade a 75 quilômetros de distância), Josefa estava com as idéias fervilhando. "Na Educação Física, precisamos ir além da prática dos esportes coletivos", avalia. Para a professora, o ensino dessa disciplina hoje valoriza mais as questões da saúde e do bem-estar dos alunos. E foi o que ela fez. "Percebi que era a oportunidade de colocar em prática o que havia estudado na faculdade."

Reprogramando suas aulas, Josefa diminuiu a carga horária dedicada aos esportes tradicionais o futebol era até então o preferido da turma para envolver os alunos no estudo do corpo humano. "Quis mostrar a eles que o ideal de beleza nada mais é do que uma imposição da mídia e que, para alcançar esse padrão, as pessoas acabam maltratando o próprio corpo", conta.

Mesmo com poucos recursos e enfrentando a incompreensão de algumas pessoas da comunidade escolar, Josefa passou a dar mais aulas dentro da classe e na biblioteca da escola e iniciou um projeto de pesquisa que trouxe à 7ª série conhecimentos fundamentais sobre boa alimentação, riscos no uso de anabolizantes e doenças relacionadas à busca exacerbada do corpo perfeito. Em quadra, as aulas também mudaram. Antes dos jogos, atividades de alongamento e de aquecimento viraram rotina. E para promover a integração de todos os alunos, não mais somente dos craques da bola, Josefa ensinou à turma jogos e brincadeiras baseados em regras mais cooperativas do que competitivas.

A sacada de Josefa, que rendeu aos estudantes uma postura mais crítica em relação às informações que recebem principalmente pela TV , também foi reconhecida pelo júri do Prêmio Victor Civita, que deu a ela a menção honrosa.

Plano de aula

Corpo ideal é o seu

Objetivos

O corpo humano reage ao modo de vida, à alimentação e a qualquer tipo de substância ingerida com a finalidade de alterar funções naturais do organismo. Ao desenvolver com a turma o projeto sobre ideal de beleza, Josefa levou os alunos a conhecer os principais riscos dessa reação à saúde e ao bem-estar. Ao abordar a influência da mídia na formação dos padrões de corpo ideal, a professora também despertou nos estudantes um espírito mais crítico com relação à leitura que fazem de imagens e textos que chegam até eles. Por fim, ela promoveu a integração de todo o grupo nas aulas de Educação Física, ao dar um tratamento mais abrangente ao conteúdo da disciplina.

Josefa começou seu projeto com uma pergunta a todos os alunos: para você, qual é o corpo ideal? As respostas deveriam ser dadas em forma de redação. "Foi uma maneira de diagnosticar a turma e sondar a suspeita de que as brincadeiras acontenciam em função de uma visão distorcida do ideal de beleza", comenta Josefa. Entre os meninos, apareceu bastante a idéia do corpo musculoso, sarado. Entre as meninas, a cintura fina, o bumbum empinado e, em geral, o corpo bastante magro. Confirmada a hipótese de que havia uma influência da mídia balizando a opinião dos estudantes, Josefa deu continuidade ao trabalho e propôs a leitura seguida de debates de dois textos.

O primeiro deles, publicado no livro Projeto Saúde na Escola, editado pelo Ministério da Saúde, trata dos conflitos enfrentados por adolescentes ao confrontar as idéias de "corpo imaginário" e "corpo real". Em seguida, o grupo leu a reportagem "O Feitiço do Corpo Ideal", publicada na revista Veja em 1998, que faz uma abordagem sociológica da padronização da beleza. "A matéria mostrava, entre outras coisas, como esses modelos ideais são signos de distinção social e servem para a elite sinalizar seu diferencial de classe em relação à maioria da população", lembra Josefa.

Depois dessa aproximação com o tema, Josefa dividiu a turma em quatro grupos e traçou uma linha de pesquisa para cada um. O primeiro ficou incumbido de levantar informações sobre bulimia e anorexia, doenças relacionadas ao desejo intenso de atingir o ideal de beleza. "Muitos dos alunos nem sequer tinham ouvido falar nessas doenças", recorda-se Josefa. O segundo grupo buscou dados sobre os efeitos dos esteróides anabolizantes tanto em adultos (o velocista Ben Johnson foi um dos exemplos) como em adolescentes. Outra turma pesquisou o uso dos suplementos alimentares e os prejuízos causados por eles quando tomados sem prescrição médica. Finalmente, o quarto grupo estudou as cirurgias plásticas com objetivos estéticos e os riscos desse tipo de intervenção.

Com o material levantado, cada equipe elaborou um grande cartaz sobre o tema de sua responsabilidade e organizou um seminário, apresentado para a classe. Depois disso, os painéis ficaram expostos no pátio. "Isso foi muito bom, pois fez com que o conhecimento circulasse entre as outras turmas e até entre os pais que costumam freqüentar a escola", conta a professora.

O projeto durou dois meses. Em paralelo às atividades de pesquisa, Josefa foi introduzindo atividades diferenciadas nas aulas em quadra. Aquecimento e alongamento tornaram-se obrigatórios antes de qualquer atividade física. "No começo, os alunos estranharam um pouco e os que estavam acostumados ao futebol mostraram resistência a esse tipo de exercício", lembra Josefa. Meninos e meninas passaram a jogar juntos até mesmo o futebol, com regras alteradas para deixar o esporte mais cooperativo. "Por exemplo, só pode fazer gol se todos do time tocarem pelo menos uma vez na bola", exemplifica a professora. Aos poucos, o grupo compreendeu a importância daquelas atividades e, como se vê na foto, passou a freqüentar as aulas de Josefa com todo o entusiasmo.

FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/educacao-fisica/pratica-pedagogica/todo-mundo-bonito-424307.shtml Acessado em 18/10/2009

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